terça-feira, 1 de novembro de 2011

MOMENTOS DOIS - 11


31 de Outubro 2011


Antes de Outubro levar mais uma pedra, passos de gigante fizeram com que a notícia da morte de Lakis se espalhasse como fogo em palha seca.

- O rei está morto! Lâminas de luz transportaram o nosso rei para junto do deus dos deuses!

Para dar cumprimento às leis do reino, o futuro rei serpente de Chover só poderá ser aclamado quando atingir dezasseis anos de idade. Até que esse dia amanheça, a rainha Argenta tomará as rédeas da montada, será ela a assumir a dança das labaredas nas fogueiras do grande império de Chover. Que diferença entre o sonho construído durante os três últimos reinados e a trágica realidade dos dias de hoje. O corpo de Lakis foi transformado em esquecimento pela flecha luminosa lançada dos céus ferozes. As suas cinzas não foram espalhadas nas águas sagradas do Marthiris pois do corpo do monarca nem a sombra se encontrou.

Hannabis será entregue aos cuidados do tio Larniki, fiel conselheiro real. Foi com ele que Lakis partilhou as últimas palavras e confidências três dias antes de se ter feito pássaro e abalar.

Larniki partirá rumo às montanhas a norte. Atravessará o novo lago do Medo ou então irá contorná-lo numa viagem mais longa pelas traiçoeiras florestas da zona intermédia de Treghirkh.

Hannibas será posto à prova nas agrestes e gélidas montanhas da cordilheira de Wawaghan onde se purificará nadando nas doze nascentes sagradas do rio Marthiris. A guarda de honra que acompanhará esta comitiva será composta por mil e catorze valorosos guardas reais montados em cavalos negros como manda a tradição.

Hannibas não será o único dos príncipes da Hglira de Kostarinadis a seguir viagem rumo ao norte. Os príncipes Gorhagahajani e Leonidas também serão treinados, educados e aconselhados de acordo com os princípios mais ascetas das tribos de Wawaghan, as mesmas que ensinaram o grande Rakis Kostarinadis, o seu primogénito Zaffiris e o herdeiro imperial agora desaparecido Lakis Kostarinadis.

As tribos das montanhas partilham a honrosa e mui digna tarefa de disciplinar todos os príncipes irmãos mais velhos. Aconteceu assim com todos os príncipes do império.

Armhiritan e Zarkhasthridis, irmãos de Rakis.

Vivinidis e Galkuhrdin, irmãos de Zaffiris.

Larniki e Saahrvidan, este último também conhecido por Zharkhanis, o grande xamã do reino, irmãos de Lakis Kostarinadis e tios de Hannibas, o futuro rei serpente.

Seguindo os passos da grande Hglira real, aos príncipes serpente se ensinarão os princípios de todas as coisas.

Como reinar e regular.

Como proteger um rei serpente.

Como perpetuar todas as histórias.

Como alimentar as pedras mais secretas.

Como edificar a alma de um conselheiro real.

Como manusear as mortíferas armas de combate.

Como identificar as cores de todos os sofrimentos.

Como resistir à vil tentação do poder que tudo queima e destrói.

A Hannibas, dentro de menos de dois anos, o império lhe perguntará como reavivar a chama quase extinta de Chover.

O novo rei serpente terá de possuir a força de quatro reis, o coração sensato de outros tantos, a alma luminosa de mil sóis, a coragem do mais cruel dos seus guerreiros e a astúcia do mais perspicaz dos generais.

Na cordilheira sagrada de Wawaghan esta história terá um novo princípio. Para que tal aconteça, os próximos meses serão cruciais para a sobrevivência das palavras. O reino conseguiu prosperar até hoje. A estes homens, e às abnegadas virtudes de Argenta, está entregue o futuro e a esperança de todo o império.


Na última pedra deste Outubro

O rei está morto

Hannibas é ainda jovem para governar


O herdeiro imperial não sonha

Reabilitará o sonho deste reino

Crescerá em poucos dias


Ficará tão forte como quatro reis

Mais puro

Mais corajoso que o cruel guerreiro

Mais astuto que o general supremo

Mais sagrado que o xamã Zharkhanis

Mais abnegado que a rainha sua mãe


Hannabis tem o futuro e a esperança

De todo o império

à sua espera na sagrada cordilheira de Wawaghan

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