sábado, 8 de outubro de 2011

MOMENTOS DOIS - 6


07 de Outubro 2011


No envelope perfumado encontram-se as restantes palavras.

Avancei pelas palavras do verbo e do animal que me ajudaram a decifrar o nome do herói da epopeia. Os jogadores começaram a colocar as palavras na mesa ao lado do pequeno triângulo branco. Como é seu hábito, as gémeas Öllin aguardam, esperam que o ultimo jogador escolha o rectângulo colorido e transmita ao triângulo o nome do herói das aventuras. Lêem os pormenores de todos os gestos, alcançam e ultrapassam a vivacidade e a perícia dos adversários, antecipam-lhes as letras e, dizem alguns daqueles que foram derrotados, conseguem entender o interior de todas as outras histórias e minam-nas por dentro, destroem-lhes a fluidez das narrativas e decompõem-lhes a coerência criativa.

Os avanços e recuos que começam a acontecer nestas crónicas fazem com que os próximos dias sejam os mais aguardados. Ávidos espectadores do grande Benzerinagui juntam-se por todas as galáxias do universo e tentam prever os enredos e aventuras, as tragédias e todas as emoções. Os vencedores da cada uma das mesas serão conhecidos quando as histórias mais estudadas, mais lidas e mais visionadas contenham as suas assinaturas.

Assim que os heróis de cada uma das trezentas histórias acabem de ser colocados por sobre as mesas, os jogadores começarão a comunicar às folhas as palavras escolhidas. Estas serão imediatamente transmutadas para um sistema galáctico de imagens holográficas à escala real. Basta depois que cada espectador e jurado possua uma vulgar holoesfera para as começar a explorar.

Consultam-se com atenção os segredos que cada competidor guardava. Os pilares das histórias começam a ser edificados. Mal se deu ainda uso às primeiras palavras, já o universo já fervilha de contentamento.

O rectângulo vermelho contém a palavra objecto que passará a fazer parte desta história. Pensei no que todos os jogadores preferem. Nas ruas por onde avança o início de todos os segredos, nesses passeios apertados e sombrios, todos gostariam que a palavra objecto pudesse facultar a fama e mais poder ao seu herói. Uma espada Excalibur, um anel de Nibelungo, uma lâmpada de Aladino, uma bola de cristal com poderes divinatórios, um tosão de ouro, um cálice sagrado, uma arca poderosa, um véu da invisibilidade, uma marca azul que controle o tempo, uma porta viajante, uma barca voadora, uma pedra onde caibam todas as histórias, uma janela com vista para a eternidade, uma pena de ganso dourada capaz de escrever a mais bela das histórias.

Antes de ler essa palavra reservada, respiro fundo uma última vez. Procuro nas ideias e na voz que me comanda as mensagens os restantes nomes dos príncipes de Chover.

Após Hannibas nasceu Gorhagahrjani e após este nasceu Leonidas e após Leonidas veio ao mundo Istmarhitnan e a estes quatro se juntaram Ramarhitnan e Ahgirthanis. Fica assim concluída a grande Hglira da casa Kostarinadis do reino de Chover.

Chegou o momento de acrescentar ao início da história o objecto que nos foi confiado. Adio mais um pouco a leitura da palavra desenhada a tinta azul neste vermelho.

Cofre de bronze!

As faces iluminadas das gémeas Öllin ficaram da cor do cartão e nos seus olhos cresceu a cobiça e as íris lhes pintou. Entenderam que o objecto foi uma carta favorável, ao contrário dos seus. Foram genuínas na apresentação do que sentiram ao entenderem a felicidade no meu rosto.

- Na dúvida das jogadas iniciais, devemos escolher e jogar a carta animal. As senhoras ficaram irritadas mas isso será sol de pouca dura. As minhas palavras não constituem um segredo e já não sou jovem nem muito perspicaz. Perdi a habilidade de enfeitiçar e de fazer uma escolha acertada das pedras que me dedico a decifrar. As senhoras adversárias não jogam com sensatez. Mais cedo ou mais tarde os seus enredos criminosos deixarão de fazer parte do gosto dos leitores deste universo. Até lá, façamos de nossas mãos umas esforçadas atletas e saibamos escolher e jogar as cartas acertadas. Caso assim não aconteça, novamente uma destas senhoras sairá sorrindo com o pote vitorioso. Eis que me invadem a mente apenas com o pretexto de mostrar esse poder. O meu animal está em cima da mesa e o meu herói tem nome de cidadela invadida. O meu verbo é a única carta que lhes faculto. Renomear! Eis aqui a palavra contida na pedra e que bordo com as cores da cinza. A minha tinta é desta cor porque na minha história só interessam as palavras, não interessa a distracção que as cores despertam. Que possa o herói da tua história alimentar de esperança e contentamento todas as galáxias deste universo, como aconteceu com a primeira de todas as histórias.


Avançar

Pelas pedras do tempo

Do animal


As adversárias aguardam pelo último jogador

Definem a estratégia

Minam por dentro as histórias

Alimentam-se da sua fluidez.


Todas as palavras

Voarão para longínquas galáxias

Serão lidas

Estudadas

Visionadas

Os segredos deixarão as pedras

O universo fervilhará de alegria


Este é o momento

Avançar

Pela pedra do objecto

Baptizar os restantes príncipes de Chover


O azul pintou de bronze o cofre no vermelho

E a íris corou de raiva e inveja

E a luz iluminou-me o rosto


Escutar as palavras de quem serei

Avançar

Pela pedra do verbo partilhada

Escrita com as cores da cinza

Renomear


Como nessa primeira vez

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