quinta-feira, 6 de outubro de 2011

MOMENTOS DOIS - 5



06 de Outubro 2011


Quente, abafado, o ambiente mantém-se pouco acolhedor para os jogadores. Não se consegue pensar com clareza.

As primeiras palavras dão origem a esta azáfama inicial. Ajeitamos as cadeiras, rabiscamos os primeiros parágrafos, deciframos os primeiros rostos às personagens, promovemos os primeiros encontros e viagens. Mais algumas folhas triangulares são colocadas em cima das mesas. Nelas repousam os nomes dos heróis e heroínas de todas as histórias. Os mais experimentados jogadores antecipam-se na escolha do rectângulo colorido com a palavra mensageira e colocam-na rapidamente nas mesas para se poderem agora dedicar à descoberta.

Os enredos nascem. Do inicial vazio de ideias e palavras surge um caudaloso rio de imaginação em que todos ambicionam navegar. Não se podem esquecer palavras e os caminhos terão de ser percorridos todos os dias que durar Benzerinagui. O tempo não pode sair vencedor como aconteceu anteriormente. Ele encerra as palavras e as histórias nas pedras, em todas as pedras, arquivando-as para sempre numa missão devastadora. O papel de quem joga é roubar ao tempo todas as palavras e todas as histórias. Com elas terão de fazer crescer as suas palavras e histórias, transformando-as depois através dos seus sonhos com poemas épicos.

Hannibas nasceu no seio de uma grande família de guerreiros. A sua pátria sofre com as sucessivas vagas de invasões e contra-invasões dos muitos inimigos do reino, principalmente dos que se situam a Norte e a Oeste de Chover.

Lakis, seu pai e grande Rei serpente, carrega no seu corpo centenas de cicatrizes, memórias eternas de outras tantas batalhas e combates. Todos os conflitos tiveram como objectivo proteger o seu reino dos invasores.

As águas purificam estas terras herdadas a Zaffiris, herdadas a Rakis Kostarinadis. Desde o princípio dos tempos que estes são terrenos abençoados pela geografia, pelo clima e pela riqueza incomparável que é a do seu povo sábio e honrado, um povo dedicado à casa Kostarinadis como mais nenhum outro povo guerreiro. Os habitantes de Chover são orgulhosos, respeitadores da ordem natural de todas as coisas, dos seus ciclos, da luz, de quem os comanda e, principalmente, da voz interna que sempre os educou.

Hannabis será o futuro rei deste povo das montanhas, dos desertos pantanosos, que vive da terra e dos lagos e das águas eternas que brotam dos céus todos os dias e que lhe moldam o carácter e as vontades. Hannabis será o quarto rei serpente de Chover, assim será quando chegar o seu momento.

As fronteiras do reino são vastas e as tribos que habitam junto a elas não possuem muito tempo para descansar. Os desertos pantanosos de Kanedh, Ormetsh e a zona intermédia de Treghirk delimitam os territórios a Noroeste. Praias escarpadas de encostas verticais ficam entre o Oeste e o verde quase luxuriante do Sudoeste.

As montanhas Serenas protegem os territórios mais a Sul. São as mesmas por onde passa e se recebe de braços abertos o grande rio Marthiris que do seu leito observa os vales, planaltos e íngremes glaciares numa improvável combinação de cordilheiras e de rio imenso que logo depois se alarga para abraçar o imenso mar de Centaurydhis onde se encontra a grande capital do reino de Chover.

Assim protegida por estas improváveis combinações geográficas, Chover cresceu, prosperou e, por tudo isso. É alvo das invejas e da cobiça dos povos vizinhos que a circundam com a excepção do império de Althydis, seu eterno aliado. Nesse poderoso império nasceu e viveu a antiga rainha Warwinyhia, esposa de Rakis Kostarinadis, primeiro grande rei e senhor supremo de Chover. A aliança entre estes reinos vizinhos vem desde a criação da casa Kostarinadis que viu nascer com Hannabis a sua quarta geração de governantes.

Depois de Hannabis os reis de Chover foram ainda abençoados com o nascimento de mais cinco príncipes, todos com doze meses de diferença com excepção do príncipe Ahgirthanis, o mais novo dos seis irmãos, que nasceu exactamente dezoito meses depois do príncipe Ramarhitnan.

Numa estreita faixa de terreno algo hostil habitado por algumas das mais selvagens e perigosas espécies animais de Chover, encontra-se a fronteira entre os dois reinos aliados. Essa é a região de Galymiades, a sudeste, e neste lado mais oriental do reino, desde a fronteira com Althydis até aos lagos invisíveis, aos pântanos, tundras e vulcões de Wirwihneda, na zona Nordeste, fica a costa do imenso mar salgado de Akorkh. Esta é uma costa belíssima com fiordes serpenteantes muito difíceis de explorar.

Mas é a Norte, na zona mais afastada da capital, que as tentativas de invasão se sucedem com cada vez maior regularidade. É vasto o território a defender e imensas as fronteiras. Os inimigos cresceram em número e são cada vez mais organizados.

É nesta zona que fica a nascente do Marthiris, o rio-serpente, bem lá no alto dos mais altos picos consagrados de Wawaghan, a mãe-montanha. O pequeno riacho que nela nasce vai lenta e serenamente aprendendo a crescer até acabar por se transformar nessa linha azul eterna, vigorosa, serpenteante, divina, que alimenta e dá sustento sagrado ao povo guerreiro do grande reino de Chover.


Nos primeiros parágrafos

se decifram os primeiros nomes

os primeiros rostos


Desenham-se personagens

Encontros

paisagens


Coloca-se na mesa a palavra mensageira

e os nomes dos heróis avançam

não mais serão esquecidos


Ao tempo resgatam-se as histórias

transformam-se as pedras em sonhos

e em poemas


como nessa primeira vez

.

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