11
de Março de 2011
Onde esconder o segredo final senão num lugar
distante, invisível, frio e quase impossível de alcançar?
Encontrá-lo de noite é tarefa votada à derrota. Encontrá-lo
de dia é tão difícil como alcançar a porta da eternidade. A montanha não
necessita de guardas para preservar o lugar secreto do Mosteiro. Encurralado
junto ao seu coração, um único guardião mantém a ordem e o crescimento do
templo que raramente recebe visitantes. Zharkhanis é o último desses guardiões.
Conhece-lhe todas as paredes, escadas, entradas perdidas e portas encerradas.
Palavras. Todas as palavras se arquivam no coração
da montanha. Zharkhanis escutou o silêncio profundo que se seguiu à queda de
grande parte da montanha-mãe. Fechou todas as portas do mosteiro, todas, menos
uma. Precisa da confirmação de Wawaghan, precisa saber se o coração de Hannibas
mantém a história quente, a montanha viva e a esperança em Argenta. Não se
podem perder as palavras desta história.
A norte, bem mais a norte, a montanha murmura,
faz-se escutar. São quase imperceptíveis estes novos sinais que Wawaghan vai
cantando. O xamã escutou-os. Argenta escutou-os para seu contentamento.
A vencedora dos anteriores Benzerinaguis tem um
ponto vulnerável exactamente por ter sido a vencedora. Mais cedo ou mais tarde
essa fraqueza será a causadora do seu rotundo fracasso.
A história ainda não terminou. O príncipe vive e
prepara-se para receber o segredo mais procurado que se encontra espalhado em
todas as histórias arquivadas nas pedras da montanha-mãe. Habituou-se à
cegueira branca que o ilumina, para ele não há dia nem noite nem madrugada.
Aguarda as novas palavras para que os planetas possam continuar a nascer e a
dançar. São elas que os ajudam a rodopiar como bailarinos celestes em início de
vida, uns atrás dos outros numa energia arrebatada. São elas que lhes fornecem
a força vital para nascer e dançar. Depois acalmam, regressam ao silêncio e
giram em torno da luz intensa que os aquece.
As portas encontram-se fechadas.
O tempo parou.
Quem parou o tempo? Quem canta a canção de
Baharhvatin? Quem voa livremente por cima do tempo parado, por cima das nuvens
eternas do reino da Chover? Este é um segredo que também se encontra no
interior do mosteiro, escondido numa de suas pedras invisíveis, fechado,
arquivado numa sala invisível.
O tempo não pára, mesmo quando pára. O tempo é um
ditador sem falhas, dominador, determina o rumo dos acontecimentos no salão de
jogo sem que os competidores o consigam entender. É ele quem os controla e quem
se delicia com as histórias que vão sendo construídas ao seu redor. O jogo
desde há muito que foi programado para que tudo faça sentido, para que todos os
implicados no Benzerinagui sintam esta estranha forma de tranquilidade que lhes
permite criar os seus enredos. Mas o que se encontra escondido por debaixo
dessa fina película que o tempo fabricou é de uma confusão e estranheza
incomparáveis.
Hannibas mexe os olhos debaixo da brancura que o
cega. Afinal a montanha não o destroçou. Afinal a montanha desabou para
proteger o futuro rei-serpente de um trágico fim.
As mensagens não param de chegar ao local onde
Wawaghan escondeu Hannibas, ali tão perto do seu coração. Os sinais são
evidentes. Nada começa, nada é e nada termina. Isto se comunica na balada
serena e ritmada de Baharhvatin.
- Vai meu filho, segue as preciosas instruções do
coração da mãe-montanha. Escuta essas preciosas instruções usando o teu
coração. Aguardamos a tua chegada para que os planetas possam continuar a
nascer, a crescer e a bailar.
O frio e a neblina estão presentes. A montanha de
gelo desabou. Hannibas não sentiu o peso tremendo de tudo o que lhe caiu em
cima. Zharkhanis sentiu-o tão perto da entrada do templo quando tudo isto
aconteceu. O chão tremeu, o império inteiro tremeu com a queda de Wawaghan. O
objectivo continua tão difícil de alcançar agora como no início da jornada.
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