terça-feira, 13 de março de 2012

MOMENTOS DOIS - 41



11 de Março de 2011
 
 
Onde esconder o segredo final senão num lugar distante, invisível, frio e quase impossível de alcançar?
Encontrá-lo de noite é tarefa votada à derrota. Encontrá-lo de dia é tão difícil como alcançar a porta da eternidade. A montanha não necessita de guardas para preservar o lugar secreto do Mosteiro. Encurralado junto ao seu coração, um único guardião mantém a ordem e o crescimento do templo que raramente recebe visitantes. Zharkhanis é o último desses guardiões. Conhece-lhe todas as paredes, escadas, entradas perdidas e portas encerradas.
Palavras. Todas as palavras se arquivam no coração da montanha. Zharkhanis escutou o silêncio profundo que se seguiu à queda de grande parte da montanha-mãe. Fechou todas as portas do mosteiro, todas, menos uma. Precisa da confirmação de Wawaghan, precisa saber se o coração de Hannibas mantém a história quente, a montanha viva e a esperança em Argenta. Não se podem perder as palavras desta história.
A norte, bem mais a norte, a montanha murmura, faz-se escutar. São quase imperceptíveis estes novos sinais que Wawaghan vai cantando. O xamã escutou-os. Argenta escutou-os para seu contentamento.
A vencedora dos anteriores Benzerinaguis tem um ponto vulnerável exactamente por ter sido a vencedora. Mais cedo ou mais tarde essa fraqueza será a causadora do seu rotundo fracasso.
A história ainda não terminou. O príncipe vive e prepara-se para receber o segredo mais procurado que se encontra espalhado em todas as histórias arquivadas nas pedras da montanha-mãe. Habituou-se à cegueira branca que o ilumina, para ele não há dia nem noite nem madrugada. Aguarda as novas palavras para que os planetas possam continuar a nascer e a dançar. São elas que os ajudam a rodopiar como bailarinos celestes em início de vida, uns atrás dos outros numa energia arrebatada. São elas que lhes fornecem a força vital para nascer e dançar. Depois acalmam, regressam ao silêncio e giram em torno da luz intensa que os aquece.
As portas encontram-se fechadas.
O tempo parou.
Quem parou o tempo? Quem canta a canção de Baharhvatin? Quem voa livremente por cima do tempo parado, por cima das nuvens eternas do reino da Chover? Este é um segredo que também se encontra no interior do mosteiro, escondido numa de suas pedras invisíveis, fechado, arquivado numa sala invisível.
O tempo não pára, mesmo quando pára. O tempo é um ditador sem falhas, dominador, determina o rumo dos acontecimentos no salão de jogo sem que os competidores o consigam entender. É ele quem os controla e quem se delicia com as histórias que vão sendo construídas ao seu redor. O jogo desde há muito que foi programado para que tudo faça sentido, para que todos os implicados no Benzerinagui sintam esta estranha forma de tranquilidade que lhes permite criar os seus enredos. Mas o que se encontra escondido por debaixo dessa fina película que o tempo fabricou é de uma confusão e estranheza incomparáveis.
Hannibas mexe os olhos debaixo da brancura que o cega. Afinal a montanha não o destroçou. Afinal a montanha desabou para proteger o futuro rei-serpente de um trágico fim.
As mensagens não param de chegar ao local onde Wawaghan escondeu Hannibas, ali tão perto do seu coração. Os sinais são evidentes. Nada começa, nada é e nada termina. Isto se comunica na balada serena e ritmada de Baharhvatin.
- Vai meu filho, segue as preciosas instruções do coração da mãe-montanha. Escuta essas preciosas instruções usando o teu coração. Aguardamos a tua chegada para que os planetas possam continuar a nascer, a crescer e a bailar.
O frio e a neblina estão presentes. A montanha de gelo desabou. Hannibas não sentiu o peso tremendo de tudo o que lhe caiu em cima. Zharkhanis sentiu-o tão perto da entrada do templo quando tudo isto aconteceu. O chão tremeu, o império inteiro tremeu com a queda de Wawaghan. O objectivo continua tão difícil de alcançar agora como no início da jornada.

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