domingo, 1 de janeiro de 2012

MOMENTOS DOIS - 26



1 de Janeiro de 2011

O acordo chegou ao fim. Hannibas está assustado e já sabe voar. O sangue sujou-lhe as mãos. Está esfomeado e ainda falta tanto caminho para percorrer. A jornada será dura. O futuro rei serpente terá de saber seguir os seguidores, terá de se colocar na mesma fila daqueles que lhes seguem as pegadas até que ele próprio alcance o estatuto de guia, até que se transforme no primeiro de todos esses guias. Não tem alternativa, terá de encontrar o caminho, seguir em frente, arranjar forças para se afastar da escuridão e das sombras. Os irmãos acompanham-no nesta fase da jornada. Hannibas, Gorhagahrjani e Leónidas seguirão juntos, crescerão juntos, aprenderão juntos como ser heróis e darão tudo por tudo pela glória do império de Chover.
Contrariamente aos futuros guias, não mentirão pois terão de ser, entre todos, os mais verdadeiros seres do universo. Terão de vencer todos os perigos, todas as tempestades, atravessar todos os desertos e enfrentar todas as chamas para alcançarem os locais onde se arquivam todas as histórias. Saberão o que pretendem e qual o destino a seguir. viajarão durante séculos através dos mais altos cumes de Wawaghan até descobrirem as luzes de todas as histórias e de todas as pedras que as arquivam para que tudo possa, então, rejuvenescer.
Depois de ultrapassado esse desafio, seguirão sozinhos a viagem. Ensinarão tudo o que aprenderam a quem os resolver acompanhar e ensinarão as palavras e as lições de todas as histórias. Só assim passarão a entender verdadeiramente o significado desta importante viagem.
O mundo do lado de fora de todas as habitações passará a ser forte, alegre. Em todos os relvados crescerá o mais esplendoroso dos jardins. Muros serão derrubados, as escuras vidraças serão quebradas, as portas e as janelas abrir-se-ão de par em par e os rostos iluminar-se-ão em rasgados sorrisos de alegria.
Parece-lhe irreal este destino. Hannibas não consegue deixar de olhar para as mãos azuis sujas de sangue e imaginar que este destino lhe tem andado a mentir. Não se sente como ele neste jogo e duvida da facilidade com que conseguiu derrotar o grande dragão negro. Nunca antes se sentira assim tão vivo. Parece ansioso por recuperar o tempo perdido mas gostava que as suas mãos estivessem limpas. Não consegue parar e não sabe se essa é a sua vontade. Ignora a presença dos irmãos que o acompanham. Esta noite não é acerca dos seus feitos mas de tudo aquilo que eles representam. Escutou e reconheceu a voz de Argenta, a rainha sua mãe, muito distante, dando-lhe conselhos. As únicas  sombras que o seguem, neste momento, são as dos irmãos Gorhagahrjani e Leónidas, príncipes de Chover.
- Que sentido faz fugir dos próprios irmãos que me acompanham? Sinto-me bem, tão bem como nunca antes me senti. Num momento caminhamos, noutro, estamos sentados à chuva perante o abismo que criámos. E no meio desta viagem terei de encontrar o amor, de preferência na manhã de um esplendoroso dia. Fazer com que isso aconteça e impedir que, ao acontecer, desapareça. Sem mentiras, sem palavras, só com o corpo a dançar, a voar e a planar por cima da mãe montanha. Nunca pensei poder sentir-me como agora, ser capaz de poder abraçar a própria Wawaghan. E fugir para quê? Fugir de quê se fui capaz de derrotar a própria besta sanguinária? Quero abraçar a madrugada e voar escondido, abrigado na sua escuridão. Por tantas razões sem sentido desejo sobrevoar Wawaghan de madrugada, vezes e vezes sem conta, sentir-me miserável, despojado de títulos e de riquezas até que a porta se abra e a surpresa aconteça. Saltar e esperar poder voar pois caso contrário cairei como as pedras que contêm as histórias e Wawaghan voltará a ser o que já foi antes de tudo ter acontecido.
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